Ter coragem é pensar em voz alta de Carolina Salgueiro Pereira

Com o passar do tempo, percebi que a Comunicação definia não só a minha vida, mas também a vida de todos/as, percebessem eles isso ou não.

As histórias moldam a cultura, moldam a perspetiva que temos sobre determinado assunto e, por consequência, o nosso comportamento.

 

A democracia acontece, cada vez mais, nos ecrãs.

 

Os meios de comunicação, desde os tradicionais às redes sociais, tornaram-se cada vez mais poderosos e um ponto de viragem para movimentos sociais e políticos. Eleger representantes, participar em campanhas, apoiar e mobilizar para protestos, entender e debater causas, direitos e injustiças são tudo ações informadas por imagens, sons e palavras emitidos por ecrãs grandes e pequenos.

 

Desde o #MeToo, #TimesUp, #GreveClimaticaEstudantil, #NeverAgain e #BlackLivesMatter, vários ativistas utilizam o poder da Internet para pressionar organizações. Fenómenos como Greta Thunberg e a sua escala para um movimento global de #GreveClimaticaEstudantil são, sem dúvida, criados pela força da comunicação digital e redes sociais. Os “media” (no seu sentido mais lato) são, em muitos aspetos, a alma de tais movimentos.

 

Nos últimos anos tenho colaborado com um departamento das Nações Unidas criado exatamente com o objetivo de, através da comunicação, mobilizar e capacitar para uma ação efetiva em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Por causa do trabalho desenvolvido, em Dezembro do ano passado fui convidada para colaborar com a equipa de comunicação do Right Livelihood Award, conhecido como “Prémio Nobel Alternativo”, onde tive a oportunidade de contactar com os mais diversos meios de comunicação internacionais, jornalistas, políticos, ativistas, entre outros.

 

Foi nesse contexto que privei com Amy Goodman, jornalista americana, repórter investigadora, escritora e pivô do programa de notícias independente Democracy Now!, que defende: “Os media são absolutamente essenciais para o funcionamento de uma democracia. O nosso trabalho não é aconchegar o poder. Deveríamos ser quem verifica e equilibra o governo.” Falámos sobre esse aumento de poder e, por consequência, aumento da responsabilidade que os meios de comunicação e qualquer criador de conteúdo deve ter.

 

Os tempos que vivemos mostram-nos diariamente a responsabilidade que tem o nosso “eu” digital (tanto enquanto consumidores como criadores de conteúdo). Precisamos de nos equipar, e de equipar os outros, com ferramentas para navegar pelos milhões de conteúdos informativos que nos vão passar à frente dos olhos durante as nossas vidas. E precisamos também de garantir que quem tem o trabalho de nos informar tem condições para o fazer.

 

As redes sociais e os media digitais podem tornar-se muito mais do que vídeos virais, clickbait e indignações fugazes. Podem, de facto, ser a nossa janela para histórias globais, para dar voz a mais diversidade de pontos de vista, para gerar mudança.

 

Este texto não é apenas sobre a importância do ativismo nos media.
Este texto é sobre Liberdade, sobre Direitos Humanos, Dignidade e Igualdade.

 

Este texto é sobre ter voz e ser-se ouvido.

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