Mulheres: uma fonte interminável de histórias de Catarina Marques Rodrigues

O desrespeito pelas mulheres e pelos seus direitos mantém-se como um dos flagelos da sociedade e sobram casos para cobrir todos os dias. Se ser jornalista é ter um olhar profundo de atenção à realidade e ao que deve ser alterado, então a lente do “feminismo” enquanto defesa da igualdade entre mulheres e homens é útil na identificação de desigualdades. Contar histórias é uma forma de expor injustiças, é dar uma cara e uma vida aos números, é revelar o que se passa no nosso país, na nossa cidade, nas casas do nosso prédio, que escondem tantas vezes atentados à dignidade. Trazer o meu feminismo para o meu trabalho jornalístico foi um processo natural de quem tem um olhar treinado para a injustiça e para as histórias femininas de superação. Considero que a empatia é essencial para nos aproximar de vidas aparentemente comuns, que escondem episódios dignos de documentários e conquistas admiráveis para quem é mulher em determinados países, contextos ou épocas. O público gosta de histórias. O público quer conhecer a realidade escondida das mulheres dos bairros, das trabalhadoras de 12 horas por dia, das mães solteiras e das que não o querem ser, das chefes e funcionárias que sofreram assédio, das que vencem num mundo masculino e das que são produto de um sistema machista.

Encontrei no jornalismo uma forma poderosa de mudar o mundo e, assim, de mexer com a cabeça de cada um. A consciência cívica e humana só favorece quem é jornalista, nunca prejudica.

Ser mulher jornalista é ter de lidar com quem vê as questões assertivas como “arrogância”, com quem testa a imparcialidade ou com quem questiona o nosso caminho e objetivos. Mas é também ter capacidade para nos aproximarmos de outras mulheres e conseguir retirar histórias que só foram partilhadas por se ter criado um espaço seguro.

O jornalismo só faz sentido se tiver impacto, senão não é mais do que um relato de números e do que a transmissão de discursos. Falar sobre feminismo e direitos das mulheres exige uma consciência treinada para estes temas, leituras intensas sobre os conceitos, participação em fóruns de mulheres, flexibilidade para se saber estar em ambientes luxuosos e em ambientes economicamente e socialmente debilitados, capacidade para ouvir e curiosidade para saber mais. Exige dedicação e paixão por resolver problemas de Direitos Humanos, porque é essa paixão que nos vai alimentar nos momentos em que alguém nos tentará demover.

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