Esta décima primeira Assembleia MANIFesta decorreu num tempo de incerteza, decorrente da grave crise social, moral e financeira que vivemos, a que se junta toda uma série de constrangimentos e ausência de perspetivas claras sobre os caminhos a percorrer pelas organizações da sociedade civil em prol de um mundo mais justo e igualitário.

A rede Animar e as demais organizações da sociedade civil cresceram com base na generosidade e no envolvimento voluntário de um vasto conjunto de pessoas e organizações que pugnavam e pugnam por uma sociedade mais democrática e equitativa, que contribua para uma maior dignidade das pessoas em fragilidade social.

Entendemos o desenvolvimento não como um conjunto de indicadores económicos de crescimento em linha com os interesses financeiros, mas como um modelo que aproxima as pessoas dos problemas globais e locais e os articula no seu interesse como um processo a partir de baixo, de discussão informal e horizontal na procura de soluções, mobilizando os recursos e as vontades capazes de acolher a humanidade na sua diversidade. É com a simplicidade e a vontade das pessoas e a complexidade e diversidade das organizações sociais que o desenvolvimento local se constrói de forma estruturada e sustentada, em cada um dos territórios.

É na medida em que consigamos colocar as pessoas a refletir sobre os seus problemas e a discutir soluções para os mesmos que vamos conseguir envolver e responsabilizar as populações, tanto na procura de soluções para os constrangimentos locais e territoriais, como para os globais. O desenvolvimento local é o modelo holístico de educação para a cidadania e igualdade das comunidades. No desenvolvimento local a cidadania e igualdade não são apenas metas, são sentimento e envolvimento, responsabilidade e participação, cooperação e solidariedade.

A Animar não pode defender um projeto económico para a economia social e solidária decalcado da economia de mercado, nem depender exclusivamente do Estado e da União Europeia. A Animar não pode contribuir para que a economia social e solidária se aproxime tanto da lógica dos mercados, ao ponto de ser apropriada por esta. Pelo contrário, deve contribuir para que a economia de mercado se aproxime cada vez mais do interesse coletivo e comum, que seja democrática, sustentável e sustentada, atendendo ao interesse de todas as pessoas e seres vivos.

O caminho a trilhar pelas organizações da sociedade civil, e pela rede Animar em particular, passa pela mobilização e convergência na diversidade destas para influenciar e definir políticas públicas, respeitando a posição da diversidade das organizações sociais, dos seus agentes, contextos e oportunidades enquanto pilares de um desenvolvimento integrado.

A solidariedade, elemento ético estruturante das organizações da sociedade civil, deve ser ecocêntrica. Vivemos na mesma casa comum, partilhada com outros seres vivos. Aprendemos que a lei do mais forte, que preside à evolução das espécies, não se pode aplicar mecanicamente à humanidade e às suas relações sociais, sob pena de apadrinharmos sociedades desumanizadas e totalitárias. A rede Animar, pela sua natureza e constituição, é parte da “biodiversidade da sociedade civil”, é a nossa consciência integral que define o nosso ADN.

A Assembleia da XI MANIFesta, realizada em Gaia, destacou os valores da solidariedade e da cooperação como elementos estruturantes da prática e do fortalecimento das organizações da sociedade civil. Devemos respeitar a diversidade social; porque permitem e estimulam o pensamento crítico, a transmissão de saberes e a difusão de experiências e práticas; porque promovem o trabalho em rede a criação de estratégias comuns, capacitam para uma melhor resistência às adversidades e para uma maior partilha recursos. A solidariedade e a cooperação contribuem para alargar horizontes, para alcançar uma visão abrangente das soluções para problemas comuns, para alcançar mais força junto dos poderes instituídos e dos decisores políticos, sociais e culturais.

A Assembleia da XI MANIFesta constatou também que o desenvolvimento dos laços de solidariedade entre as organizações da sociedade civil são condicionados pela prevalência de uma perceção e/ou cultura individualista que se traduz numa desconfiança mútua e numa baixa consciência coletiva. Condicionamento que é aliado à prevalência de uma crescente burocracia e formalidade asfixiantes (via protocolos, parcerias, …), focalizada em metas e resultados quantitativos em detrimento dos resultados qualitativos (nos ganhos imateriais para as comunidades), na importação de modelos desfasados das realidades e das especificidades locais e nacional. Paralelamente a estes constrangimentos verificam-se agendas particulares (políticas e pessoais) das lideranças associativas e institucionais, que condicionam uma maior capacidade de pressão social.

Os participantes na Assembleia da XI MANIFesta assumiram o compromisso de contribuírem para, a partir das suas organizações e territórios, en-vidar esforços para a mudança de forma organizada. Começar a construir um pensamento e ação comum ou convergente, mobilizando sinergias e vontades estratégicas. Assim, consideram necessário organizar e tornar comum processos de reflexão. O que torna imperioso alargar o debate (tanto aos que trabalham nas organizações como às populações) realizando assembleias, reuniões e encontros de partilha de metodologias e atividades, na construção de propostas comuns, ouvindo sempre os e as destinatários/as ou beneficiários/as das nossas ações. Neste processo também é necessário associar o erro à aprendizagem, valorizar os indivíduos, envolver os políticos e articular iniciativas e eventos com planos de comunicação mais fortes e eficazes junto dos média.

Nesta perspetiva, os presentes na XI Assembleia da MANIFesta consideraram necessário a criação de espaços de debate, reflexão e decisão, que elevem as propostas a ações concretas, que elevem os interesses organizativos a interesses comuns, que elevem as forças das organizações e agentes de desenvolvimento à mudança social para uma sociedade mais inclusiva e justa.

Vila Nova de Gaia, 12 de Novembro de 2016

Participaram: FNAT | Casa da Esquina | FAJUDIS | Vizela Imaginativa | GESDCRM | ADM estrela | EAPN | Federação Minha Terra | CPCC DA | Fórum Cidadania & Território | CRESAÇOR | Glocal Decide | ICE

Downloads disponíveis
Declaracão Manifesta de 2016
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