Alentecer o Envelhecimento: práticas e desafios

Decorreu no dia 26 de outubro de 2024, nas instalações da Barafunda – Associação Juvenil de Cultura e Solidariedade Social, na Benedita, o Encontro “Alentecer o Envelhecimento: práticas e desafios”.

A iniciativa, organizada pela Animar – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local em parceria com a Barafunda e a Human Coop, duas das suas associadas, contou com uma participação muito diversificada, tendo reunido cerca de 40 pessoas, nomeadamente autarcas, investigadores e especialistas que têm vindo a desenvolver alguns estudos e dinâmicas dirigidas às pessoas mais velhas, sem deixar ninguém para trás, com o propósito de melhorar a qualidade de vida destas pessoas.

A sessão de abertura contou com a participação das entidades organizadoras da iniciativa e com a participação do Presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues. Nesta sessão, Marta Costa, Presidente da Barafunda, referiu o potencial deste tipo de iniciativas para a emergência de um novo olhar para as pessoas mais velhas, o que foi reforçado por Jorge Claro, Vice-Presidente da Animar, que reforçou a importância da partilha de experiências como forma de sensibilização das pessoas no geral e de inspiração de outras entidades para o desenvolvimento de novas soluções face à evolução da pirâmide etária.

Segundo Hermínio Rodrigues “é preciso criar políticas públicas ajustadas à realidade das pessoas, destacando a necessidade de organizar os serviços e formar as camadas mais jovens e de valorizar as gerações, sendo também esta uma forma de cuidar do próximo”, o que requer um trabalho conjunto.

Ana Santos, directora da Human Coop, referiu que a criação da entidade que aqui representava foi desenvolvida precisamente como uma resposta pensada, nas suas diferentes dimensões, para responder aos problemas associadas ao envelhecimento.

A StopIdadismo é uma das entidades de referência nesta temática, pelo que contámos com a participação do seu Presidente da Direção, José Carreira, que nos apresentou as 8 prioridades estratégias de combate ao idadismo.

José Carreira apresentou uma breve resenha das iniciativas e os marcos históricos deste movimento, destacando o contributo do Relatório e das Recomendações Portugal Mais Velho, decorrentes de estudo promovido pela APAV que procurou identificar as lacunas das políticas públicas e da legislação em relação ao envelhecimento da população e à violência contra pessoas idosas, apresentar boas práticas e ainda listar recomendações para melhorar esta situação.

Recorde-se que o Movimento #StopIdadismo tem como objetivo sensibilizar, identificar e eliminar os preconceitos e a marginalização das pessoas idosas devido à idade, tendo sido partilhado um exemplo de publicidade idadista. A associação tem levado a cabo a realização de iniciativas, por exemplo associadas ao Dia da Conscientização do Idadismo – 7 de outubro, e campanhas em estreita articulação com a Campanha Mundial Contra o Idadismo da ONU “#AWorld4AllAges” e a Década do Envelhecimento Saudável 2020-2030, principal estratégia da OMS para apoiar ações de construção de uma sociedade para todas as idades, baseada na Estratégia Global da OMS sobre Envelhecimento e Saúde, no Plano de Ação Internacional das Nações Unidas para o Envelhecimento e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda das Nações Unidas 2030.

Tendo presente os vários desafios que têm surgido associados a esta temática e à importância do desenvolvimento de planos gerontológicos, o grupo de trabalho “Envelhecimento e Desenvolvimento Local”, promovido pela Animar – Associação portuguesa para o Desenvolvimento Local, levou a cabo a realização de um Estudo de Avaliação Multidimensional do Envelhecimento Ativo e Saudável, sob coordenação científica de Raul Marques, Coordenador do Grupo de Trabalho Envelhecimento e Desenvolvimento Local, e cuja síntese de resultados, nomeadamente mitos, tabus e estereótipos foi aqui apresentada. No quadro deste grupo de trabalho foi também desenvolvido o Glossário “Pessoas mais velhas não são descartáveis”, cuja apresentação foi realizada por Célia Lavado, membro da equipa de coordenação da Animar. Trata-se de um instrumento de denúncia, mas também de combate e consciencialização social, de denúncia de palavras, expressões e frases preconceituosas, que se articulado com uma boa comunicação pode ser mais um contributo para combater um mundo menos estereotipado.

Magda Rainho, Gerontóloga, veio apresentar-nos o projecto CAF – Cuidar com Amor & Felicidade, por via do qual pretende contribuir para um envelhecer vivido com mais qualidade de vida, evitando a institucionalização e no âmbito do qual disponibiliza um leque de serviços: consulta gerontológica, movicorpo, ligações brilhantes, sentir com alma, terapia holística, o Programa Revisão de Memórias e workshops. A “base” é a consulta, em que se realiza a “avaliação multidimensional” da pessoa. A partir daí, traça-se “um plano de intervenção e um plano individual de cuidados”, conforme as necessidades. Além de promover a atividade física e a estimulação cognitiva, a gerontóloga foca-se no trabalho das emoções e refere ser “apologista de que quanto mais cedo prevenirmos, melhor. Não esperar que a pessoa já precise dessa ajuda, mas prevenir que se chegue a um estado mais agravado.”

O período de almoço foi animado por José João Rodrigues (Casa do Sal), que preparou um arroz colaborativo, no qual cada pessoa trazendo um ingrediente, e mexendo o arroz, enquanto se degustavam as tapas Casa do Sal, as pessoas respondiam às perguntas do dinamizador, a conversa ia fluindo, gerando ideias e propostas no sentido de potenciar a reflexão em torno da temática.

No período da tarde contámos com a participação do testemunho da Barafunda e de alguns especialistas da área da neuropsicologia, gerontologia, osteopatia e acupunctura, nutrição e da dança sénior.

Sob o tema “Crescer com a Idade: da Escola às Pessoas”, Isabel Rufino e Cristina Domingos falaram-nos da experiência de trabalho em rede entre a Barafunda e o Agrupamento de Escolas da Benedita, que se afirma como “uma Escola, construída na pluralidade de ideias e conceções, onde todos se revejam, desenvolvendo um sentido de pertença” e para a qual tem sido muito importante a parceria com a Barafunda e o Centro Qualifica, sobretudo para abordar temas de cidadania que não estão previstos nos currículos, como o tema da permacultura ou da exposição “Gaza é Aqui!”, que pela forma como são trabalhados, ficam na memória das crianças.

O tema das demências assola-nos todos os dias, sendo importante desenvolvermos estratégias activas na sua prevenção, tendo sido este o tema abordado pela neuropsicóloga Vanda Serra. Para a especialista “são muitos os factores modificadores que poderão ser utilizados na prevenção das demências”. A ciência da neuropsicologia estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano, isto é, o funcionamento do cérebro e os processos mentais, por via dos quais tenta compreender as alterações, lesões ou malformações que afectam o sistema nervoso, causando défices nas áreas cognitivas e no comportamento, através do estudo das funções mentais superiores.

Vanda Serra, também cooperadora da Human Coop, CRL, reforçou a importância de desenvolvermos estratégias activas da prevenção da demência, pois esta será uma forma de evitar a doença ou de a identificar o mais cedo possível para que possamos agir e travar a sua evolução, tendo sido apresentados alguns exemplos de como podemos reduzir os riscos de vir a desenvolver demência através da adopção de uma alimentação saudável e bons hábitos, de uma vida social activa, da prática de exercício, do controlo da saúde e da aprendizagem de coisas novas por forma a estimular o raciocínio.

As vivências que cada pessoa vai acumulando ao longo da sua vida têm impacto no seu desenvolvimento psicossocial. Certamente cada um/a de nós já ouviu dizer que o stresse é um dos factores mais impactantes na nossa saúde, sendo que por norma não verbalizamos aqueles que são também os ganhos decorrentes do envelhecimento. Ao longo da nossa vida, passamos por diversos estádios de desenvolvimento psicossocial, como defendia o psicanalista Erik Erikson, que naturalmente têm impacto na nossa personalidade e nas várias etapas da nossa vida.

A melhoria das condições de vida tem contribuído para o aumento da longevidade e para o desenvolvimento de um nova olhar sobre a velhice, que é um período da vida humana marcado por ganhos e perdas físicas, cognitivas e existenciais. Marisa Costa falou-nos sobre as várias etapas e mudanças, sendo que é a partir dos 60 anos que alcançamos o 8º estádio Integridade Vs Desespero, no qual as pessoas fazem um balanço da sua vida e refletem sobre a sua história e avalia o seu legado, quer por arrependimento ou gratidão,  e na qual a pessoa pode se tornar mais doce ou amarga, consoante o balanço que faz da sua vida, e que será determinante na forma como encara o processo de envelhecimento com um sentimento de realização ou de desespero e não conformidade com o fim da vida.

Considerando a importância de uma alimentação saudável e de uma dieta equilibrada rica em frutas, vegetais e grãos integrais, Filipe Oliveira – Nutricionista, falou-nos sobre a importância de uma alimentação saudável para o combate ao envelhecimento, tendo destacado o contributo da proteína e da hidratação. Segundo o especialista, os alimentos processados e cheios de açúcar, como os doces e refrigerantes, podem ser os vilões que intensificam a dor no corpo, pelo que se deve optar por peixes como salmão e sardinha, ricos em ómega-3, assim como as nozes e o azeite, que são super alimentos que ajudam a acalmar as articulações e trazem alívio para quem sente dor. Actualmente existe mais informação sobre possíveis intolerâncias alimentares, que podem agravar a inflamação, pelo que devem ser evitados alimentos problemáticos, como glúten e lactose, pode transformar a qualidade de vida. Por fim, reiterou a importância de uma boa hidratação, o que ajuda a eliminar toxinas que contribuem para a inflamação.

Tendo presente a importância da actividade física, António Rufino – Osteopata e Acupuntor, falou-nos sobre a importância destas duas terapias na estratégia antienvelhecimento, sobretudo ao nível da prevenção e tratamento de perturbações musculoesqueléticas. Segundo o especialista, a osteopatia é muito mais do que um simples tratamento, sendo considerada como uma abordagem holística que se concentra na harmonia do sistema musculoesquelético, que através de técnicas manuais, permite aliviar dores e aumentar a mobilidade, sendo que existem diversos tipos de tratamentos disponíveis, como manipulação articular, alongamentos e liberação miofascial. Por sua vez, a acupunctura libera endorfinas, que são substâncias químicas do bem-estar, dando um alívio rápido para a ansiedade e a depressão. Este tratamento ajuda a regular os neurotransmissores do cérebro, como a serotonina e a dopamina, trazendo mais equilíbrio e estabilidade emocional, pelo que ao reduzir a tensão e o stress, ajuda a combater a insónia que muitas vezes acompanha problemas emocionais, sendo que ativar o sistema nervoso parassimpático, as sessões de acupuntura promovem um relaxamento profundo e uma redução significativa do stress.

Por fim, terminámos este encontro com uma apresentação de Ana Santos, cooperadora da Human Coop CRL, subordinada ao tema Dança Sénior – das origens às práticas na Europa e em Portugal, no âmbito da qual a especialista nos apresentou e demonstrou esta excelente ferramenta de intervenção no envelhecimento saudável.

De seguida partilhamos alguns excertos dos exercícios de danças sentadas e danças em pé:

 

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