Decorreu no passado dia 12 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, o II Fórum de Educação para o Desenvolvimento.
Esta edição deste Fórum ED foi subordinada à temática: “Processos de aprendizagem sobre o mundo e sobre nós à luz da Educação para o Desenvolvimento” e teve como ponto de partida a questão central: Como interrogar o mundo e interrogarmo-nos a nós próprios a partir da ED em tempo de crises e de grandes transformações?
Ao longo do dia foram várias as intervenções que reforçaram a importância da cooperação e o papel da educação para a mudança para uma sociedade melhor e mais justa e, como referiu Francisco André, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, apenas com envolvimento e esforços de todos conseguiremos promover ações de qualidade nesta área. Por sua vez, Mónica Ferro, diretora do Escritório do Fundo das Nações Unidas para a População, referiu que as estratégias de ED têm de abalar preconceitos, estereótipos, e só assim será possível dar o salto para a mudança que todos almejamos.
No painel seguinte, subordinado à reflexão e ação em tempos de crises, André Costa Jorge, membro da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, reforçou necessidade de associar educação e migração, o que implica pensar de um modo mais integrado, dando como exemplo a necessidade de adequar manuais escolares para que estes possam permitir a integração das crianças e jovens migrantes.
Lina Coelho, Professora Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, frisou os desafios da linguagem e da língua portuguesa em particular, que em algumas situações se apresenta como uma verdadeira barreira e intensifica as desigualdades e a justiça social, mesmo para as pessoas vindas dos PALOP, que muitas vezes dominam outras línguas ao invés do português. Neste sentido, a cooperação e a educação para o desenvolvimento devem focar-se sobretudo na ajuda as pessoas, na perspectiva da ajuda aos seus países de origem. Por fim, com a referência a que há escolas que trabalham muito bem, mas também há outras onde não de faz nada, reforçou que tudo isto é muito efémero porque tudo depende das dinâmicas de cada pessoa, neste caso de professores e professoras, sendo que o sucesso escolar decorre dos modelos que as crianças têm e que são definidas pelas expectativas das pessoas adultas à sua volta.
Para além da importância de pensar sob o ponto de vista do outro, da transformação cibernética, foi referida a falta de respostas ao nível da saúde mental, da falta de financiamento para a educação para o desenvolvimento e para o trabalho que as associações, as quais apresentam um papel crucial nos processos de aprendizagem e na preparação de jovens. A este propósito, foi destacada pela maioria das intervenções, a necessidade de aumentar o financiamento da educação para o desenvolvimento em Portugal.
Sandra Monteiro, Le Monde Diplomatique, fez referência à importância de refletirmos sobre os conceitos – ideologia da complexidade – pois não existe um local e um global, há vários locais e globais.
Rogério Roque Amaro, ISCTE-IUL e Pluriversidade Comunitária Local e Global, apresentou o conceito da Pluriversidade Comunitária que é um ponto de chegada, mas também um ponto de partida para a Solidariedade, que construiu a partir da conjugação do saber que encontra nas relações afetivas e que foi encontrando nas diversidades locais que não eram tidos em conta na universidade. I verdade
No que respeita à construção da Pluriversidade, Roque Amaro fez referência à criação do primeiro grupo comunitário de Lisboa, há 30 anos, tendo convidado Ana Bragança a dar o seu testemunho, uma vez que e agora uma das pessoas que integra um destes grupos.
Ana Braganca partilhou a sua experiência no mais recente grupo comunitário criado em abril último, no Bairro de Campolide, que está a contar com a colaboração do grupo de moradores e que nasceu a partir da experiência da agro-floresta Bela Flor, reforçando que a floresta não teria os problemas que tem se fosse pensada com os locais.
Na Pluriversidade põe-se em prática a diversidade de saberes, onde todas e todos são aprendentes e partilham experiências, sendo o espaço público um espaço de democracia, no qual as assembleias comunitárias ganham relevo e associadas às assembleias municipais se assumem como alternativa para resolver problemas locais.
La Salete Coelho, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e Instituto Politécnico de Viana do Castelo, chamou à atenção para que os tempos são urgentes e focou a importância de abrandarmos para refletir, para que possamos assim aprender à luz de ED e aprender para um mundo de melhor. Recordado Oscar Jára, a investigadora destacou ainda que temos que viver numa procura constante, sendo fundamental que todos e todas tenhamos consciência da nossa forma de vida – é preciso compromisso para incorporarmos outras molduras, e neste quadro a Educação para o Desenvolvimento pode-nos ajudar a ter outras visões.
Começando por se questionar como se aprende para a incerteza, Jorge Cardoso, Centro Social Paroquial de Aveiras de Cima, destacou o que não é aprender a luz de ED
- Não é aprendizagem sem sentido, sem ter resposta ao para quê
- Não se aprende por magia (grandes causas, grandes experiências e grandes receitas)
- Não se aprende pela culpabilidade/ educa
- Não se aprende quando tudo fica demasiado pesado – sem esperança não há aprendizagem, não há crença
- Não simplificar muito e ser demasiado simplista – a complexidade deve ser amiga e companheira do processo de aprendizagem
Não se aprende ED num registo individual… a força do coletivo e do contexto e fundamental Neste painel foi uma vez mais destaca a necessidade e importância da educação não formal e da necessidade da educação ser transformada a luz de ED, pois os processos pedagógicos devem ser repensado da luz da solidariedade, diversidade, riqueza – acreditar no valor da educação, cujo paradigma deverá ser assente no Ambiente – pessoas e solidariedade, na Fraternidade, ao invés de liberdade, na parodoxia e na economia do futuro, dando como exemplo o pastoreio comunitário. É preciso alargar o escopo da ED, mas sem que isso ponha em causa o trabalho que já é realizado a este nível.
Ana Patrícia Fonseca , presidente da Plataforma Portuguesa das ONGD, reforçou que os desafios globais só podem ser enfrentados numa parceria genuína, sendo que continuamos a assistir a uma multiplicidade de desafios. Torna-se necessário priorizar o fortalecimento da Educação para o desenvolvimento para tornar real um mundo justo, para todas as pessoas em todos os lugares.
Para Animar é necessário refletir para que seja possível promover a Educação para o Desenvolvimento, por forma a garantir a inclusão das crianças e jovens migrantes e assim garantir a igualdade no acesso à educação.
O Fórum ED é uma ação transversal no âmbito da Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento 2018-2022 (ENED 2018-2022), promovido pela Comissão de Acompanhamento da ENED 2018-2022 – composta pelo Camões -Instituto da Cooperação e da Língua, pela Direção-Geral da Educação, pelo CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e pela Plataforma das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento – com o apoio das demais entidades subscritoras do Plano de Ação da referida ENED.