O sucesso deste evento deveu-se ao nível de conhecimento que as organizações e pessoas envolvidas partilharam de práticas, sendo que a Animar contou com a presença de algumas organizações e pessoas associadas da Rede.
Este evento reforçou, no quadro do desenvolvimento local, a importância de um papel ativo na transição energética. As comunidades e as organizações sem fins lucrativos devem e têm de se envolver naquilo que é esta causa e que se liga diretamente com a defesa do bem-estar das comunidades locais, fora de uma lógica exclusivamente capitalista de acesso a este bem essencial.
Foram partilhadas práticas por parte de entidades nacionais incontornáveis nesta matéria como é o caso da Coopérnico (https://www.coopernico.org/), da ZERO (https://zero.ong), da Cooperativa da Ilha da Culatra (Culatra2030 – Comunidade Energética Sustentável – A iniciativa “Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável” pretende criar uma comunidade piloto em energias renováveis na Ilha da Culatra, Ria Formosa, Algarve.) e do Projeto Local de Telheiras (Comunidade de Energia Renovável de Telheiras | Viver Telheiras – Informação sobre o bairro de Telheiras, actualizada e organizada., ancorado à Associação Viver Telheiras), enquanto entidades promotoras de projetos para a transição energética, baseados em diagnósticos comunitários participativos e envolvimento direto da comunidade local na procura das soluções que lhe são mais vantajosas.
Foi identificado como ponto fraco a falta de conhecimentos técnicos da parte das comunidades locais para avançar com projetos, sendo por isso fundamental que pessoas da academia ou de associações de âmbito local possam assegurar este suporte.
Do ponto de vista de propostas de medida de política pública, para apoiar uma efetiva transição energética em modelos coletivos e de base comunitária, foram sugeridas medidas como a criação, por exemplo, de vales comunidades energia no quadro do Fundo Ambiental, a majoração de projetos que combatessem a pobreza energética, a isenção total de tarifas de acesso às redes, a disponibilidade de telhados públicos para estes projetos, antecipando o facto de edifícios públicos em 2027 terem obrigatoriamente de ter energia renovável, entre outras.
Rogério Roque Amaro, investigador com trabalho significativo no domínio da intervenção comunitária e Ana Rita Antunes da Coopérnico, centraram a discussão da energia como pilar do desenvolvimento e bem-estar. Defendendo que é preciso uma visão ecocêntrica da energia, como conceito e prática da economia solidária, tendo em conta que a solidariedade também deve ter uma dimensão ambiental em paralelo com a económica, a cultural, a territorial, a cognitiva, a política, de valores e de modelo de gestão. Entendem também que a energia pode deixar de ser um recurso para passar a ser uma componente de desenvolvimento. A pobreza energética entra dentro da interseccionalidade da pobreza e compreende o não acesso a recursos fundamentais à sobrevivência e bem-estar.
Em conclusão, ficou claro que há ainda um caminho coletivo a percorrer no quadro da democracia energética, sendo importante encontrar momentos de inter capacitação associativa num domínio transversal como este, para que se consiga apresentar propostas coletivas que ganhem força reivindicativa no quadro das políticas públicas.